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HISTÓRIA

76 anos do plebiscito para a emancipação de Cordeirópolis

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HISTÓRIA (Foto: Reprodução)

Neste mês de outubro, onde tradicionalmente ocorrem eleições para todos os níveis de governo, lembramos a votação (chamada plebiscito) que perguntou à população de Cordeirópolis se ela deseja se emancipar de Limeira e criar o Município autônomo. Para chegar a esta votação, muita coisa aconteceu, e neste texto, lembramos os fatos ocorridos há mais de setenta anos no então Distrito.  No final do mês de fevereiro de 1948, o jornal “O Limeirense” destaca em sua capa o momento em que a Assembléia Legislativa, através da Comissão Revisora, iria começar a receber os pedidos de criação de distritos de paz, Municípios e Comarcas no Estado. Diante dessa notícia, uma nova comissão pró-emancipação se formou, que publicou seu manifesto em 18 de março e era composta pelos principais industriais da cidade (Krauter, Jafet, Gabriel Saad, Jamil, Moacyr Dias) e outras pessoas importantes, como Carlos Hespanhol, participante do movimento de 1934, e Huberto Levy, proprietário da Fazenda Ibicaba e que já tinha sido vereador em Limeira na década de 1930. Em 25 de março, já começavam as discussões sobre a viabilidade da emancipação: um articulista dizia que, apesar de ter um “comércio sólido, indústrias em franco desenvolvimento, grande número de prédios urbanos”, pré-requisitos fundamentais para a emancipação, o futuro município deveria continuar “com suas mesmas divisas distritais”, sem retirar território da sede.  A 06 de maio, o jornal pesquisado divulga que os deputados Castro de Carvalho e Cunha Bueno encaminharam à Assembléia Legislativa a representação dos moradores de Cordeirópolis para a elevação a município. Ela continha mais de 1.500 assinaturas, o que também se enquadrava nos pré-requisitos necessários; ao contrário de Iracemápolis, cuja petição foi assinada por menos de 10% da população, sendo por isso impedida de continuar o processo de apreciação. A sua emancipação só ocorreria em 1953.  Apesar de toda a repercussão do movimento autonomista, havia, no distrito, um grupo contrário à emancipação, por “mero capricho político”, segundo o jornal de 23 de maio. Ainda, conforme o mesmo polemista, eram justamente “os mais barulhentos componentes da célebre Liga Autonomista”. Esta “Liga”, na verdade, era a “Aliança Autonomista de Cordeiro”, que se reuniu em março de 1934 visando a emancipação, e que tinha como membros Bento Lordello e Aristeu Marcicano (em 1948 no PSD), Moacyr Dias e Carlos Hespanhol (em 1948 no PSP e no outro movimento emancipacionista).  Naquele período, a imprensa de Limeira discutia a emancipação de Cordeirópolis. Em 27 de maio, um artigo assinado por “UM AUTONOMISTA” enumera os pontos positivos de Cordeirópolis quanto ao seu sustento como município. Diz ele que a arrecadação ultrapassava, aquela época, Cr$ 200.000,00, isto é, mais do que o limite mínimo para que um distrito pleiteasse emancipação e que, devido a dispositivos legais, a cidade receberia mais Cr$ 275.000,00 do governo federal e mais Cr$ 275.000,00 do Estado, isto é, um total de Cr$ 800.000,00. Os gastos seriam, mais ou menos, de Cr$ 100.000,00 e, portanto, haveria muita sobra para ser investido. Mais tarde, em 05 de agosto, um ex-sub-prefeito de Cordeirópolis e engenheiro da Prefeitura Municipal de Limeira, Milton Silveira, escreve um artigo que recebe um destaque até então nunca dado ao assunto nas páginas d’O Limeirense: o texto tinha o título “Independência de Cordeirópolis” e seus subtítulos logo no alto, e o texto ocupando quase toda a página.  O grande articulista tenta provar a inviabilidade da emancipação de Cordeirópolis, dizendo que quando ele foi nomeado subprefeito, em 1943-4, “não tinha recebido um único despacho, um único requerimento”, e que “apenas um contribuinte apareceu para tratar de assuntos administrativos”, concluindo-se logo que “a Vila não possui aquele entrosamento administrativo”. Para arrematar o grande conjunto de argumentos “brilhantes”, o sr. Milton Silveira aproveita para, jocosamente, opinar sobre o tamanho do que deveria ser o futuro município de Cordeirópolis: “no mapa geral do Estado, o município de Cordeirópolis será invisível a olho nu”.  Além disto, Silveira tenta desmentir o autor de um artigo publicado no fim de maio, sobre a arrecadação do futuro município, dizendo que ele não receberia o adicional de 30% sobre o excesso de arrecadação, porque essa é muito pequena; que só em 1950 entraria dinheiro federal e que o município teria que arcar com 5% da dívida total de Limeira, segundo a Lei Orgânica dos Municípios. Do lado da despesa, Silveira diz que o aporte de Cr$ 100.000,00 para o total das despesas do município é de uma “inocência encantadora” e que com os gastos para ordenados, amortização da dívida, luz e força, material de consumo, etc., haveria um deficit de pelo menos Cr$ 100.000,00, além de ter direito a somente 10% da taxa da água que saía da represa de Cascalho e teria que pagar 10% do atual valor para conservação do manancial e da energia elétrica das bombas. Apesar de alegar com segurança todos os motivos que inviabilizariam a criação do município, no final, o engenheiro, parodiando o que teria dito D. João VI a D. Pedro quando da volta a Portugal, terminou concluindo: “Jamil, antes seja para ti, do que para qualquer outro”. O plebiscito foi marcado para o dia 3 de outubro, um domingo, e, como sabemos, saiu vitorioso, com 893 votos a favor da criação do Município e 78 contra. Na primeira eleição, marcada para 13 de março do ano seguinte, o candidato do PSD, Aristeu Marcicano, saiu vitorioso e governou até 1953. Logo após a emancipação, foi proposta a denominação de “3 de outubro” a um local da cidade com a data, mas o projeto não prosperou e foi arquivado. 

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